Ocidente começa a dar sinais de que pode abandonar a Ucrânia
Alto custo da guerra e falta de avanços significativos na batalha jogam contra Kiev, que já sente pressão de aliados

Oanúncio do governo da Polônia de que vai parar de enviar armas e outros equipamentos militares para o esforço de defesa da Ucrânia é o mais claro sinal de que o ocidente começa a cansar da guerra na Europa.
Membros da União Europeia e da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), os poloneses estão entre os mais importantes aliados da Ucrânia.
O país demonstrou forte apoio a Kiev desde o primeiro dia de conflito, fornecendo nada menos do que US$ 4,54 bilhões em armas e ajuda humanitária e financeira.
Em termos de equipamento, os poloneses enviaram para o país vizinho nada menos do que 320 tanques da era soviética e 14 caças MiG-29.
Além disso, é pelo território da Polônia que passa a maior parte das armas ocidentais utilizadas no campo de batalha. Para completar, o país recebeu mais de 1,6 milhão de refugiados ucranianos –pressionando cada vez mais os serviços públicos locais.
O anúncio foi feito pelo primeiro-ministro Mateusz Morawiecki, que vai disputar eleições gerais no dia 15 de outubro, e tem como pano de fundo um embate direto com o governo do presidente Volodymyr Zelenski por causa da exportação de grãos ucranianos.
Os grãos, que não podem mais ser exportados pelo Mar Negro por conta do bloqueio naval russo, estão inundando o mercado polonês e de outros países vizinhos –o que cria pressão sobre os agricultores locais.
Mas este é apenas um dos elementos de fratura.
Ogoverno polonês e o de vários outros países estão começando a ser cobrados pelos altos custos da guerra e pela falta de avanço militar significativo dos ucranianos em sua contraofensiva –apesar dos sofisticados equipamentos enviados pela OTAN.
A proximidade das eleições na Polônia apenas antecipou o debate.
E a pressão sobre Kiev só vai aumentar, com várias outras eleições a caminho, inclusive a crucial disputa pela Casa Branca no ano que vem –que vai forçar o presidente Joe Biden a também justificar todos os custos bilionários da guerra para os cofres americanos sem grandes ganhos no terreno.
Outros sinais de fadiga ocidental apareceram na recente Cúpula de Líderes do G20, quando os Estados Unidos e os países europeus cederam à pressão da Rússia e da China e concordaram em emitir um comunicado final sem nenhuma crítica direta à invasão da Ucrânia.
FOTOS – Imagens mostram a destruição da guerra entre Rússia e Ucrânia
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Veja imagens que mostram a destruição da guerra na Ucrânia após cerca de um ano e meio de conflito
Crédito: 30/06/2023 REUTERS/Valentyn Ogirenko - 2de20
Vista mostra ponte Chonhar danificada após ataque de míssil ucraniano, em Kherson, Ucrânia
Crédito: 22/06/2023Líder da região de Kherson Vladimir Saldo via Telegram/Handout via REUTERS - 3de20
Casas inundadas em bairro de Kherson, Ucrânia, quarta-feira, 7 de junho de 2023.
Crédito: Felipe Dana/AP - 4de20
Prédio destruído em Mariupol, na Ucrânia
Crédito: 14/04/2022 REUTERS/Pavel Klimov - 5de20
Área residencial inundada após o colapso da barragem de Nova Kakhovka na cidade de Hola Prystan, na região de Kherson, Ucrânia, controlada pela Rússia, em 8 de junho.
Crédito: Alexander Ermochenko/Reuters - 6de20
Imagens de drone obtidas pelo The Wall Street Journal mostram soldado russo se rendendo a um drone ucraniano no campo de batalha de Bakhmut em maio.
Crédito: The Wall Street Journal - 7de20
Vista aérea da cidade ucraniana de Bakhmut
Crédito: Vista área da cidade ucraniana de Bakhmut em imagem de vídeo15/06/202393rd Kholodnyi Yar Brigade/Divulgação via REUTERS - 8de20
Socorristas trabalham em casa atingida por míssil, em Kramatorsk, Ucrânia
Crédito: 14/06/2023Serviço de Imprensa do Serviço Estatal de Emergência da Ucrânia/Handout via REUTERS - 9de20
A cidade de Velyka Novosilka, na linha de frente, carrega as cicatrizes de um ano e meio de bombardeios.
Crédito: Vasco Cotovio/CNN - 10de20
Crateras e foguetes não detonados são uma visão comum na cidade de Velyka Novosilka, que foi atacada pelas forças russas.
Crédito: Vasco Cotovio/CNN - 11de20
Policial ucraniano dentro de cratera perto do edifício danificado por drone russo.
Crédito: Reprodução/Reuters - 12de20
Rescaldo de um ataque de míssil russo na região de Zhytomyr
Crédito: Bombeiros trabalham em área residencial após ataque de míssil russo na cidade de Zviahel, Ucrânia09/06/2023. Press service of the State Emergency Service of Ukraine in Zhytomyr region/Handout via REUTERS - 13de20
Danos à barragem de Nova Kakhovka, no sul da Ucrânia, são vistos em uma captura de tela de um vídeo de mídia social.
Crédito: Telegram/@DDGeopolitics - 14de20
Vista da ponte destruída sobre o rio Donets
Crédito: Lev Radin/Pacific Press/LightRocket via Getty Images - 15de20
Ataque com míssil mata criança de 2 anos e deixa 22 pessoas feridas na Ucrânia, diz governo
Crédito: Ministério da Defesa da Ucrânia/Divulgação/Twitter - 16de20
Foto tirada por ucraniana após ataques com drones russos contra Kiev. Drones foram abatidos, mas destroços provocaram estragos.
Crédito: Andre Luis Alves/Anadolu Agency via Getty Images - 17de20
Morador local de pé em frente a prédio residencial fortemente danificado durante o conflito Rússia-Ucrânia, no assentamento de Toshkivka, região de Luhansk, Ucrânia controlada pela Rússia
Crédito: 24/03/2023REUTERS/Alexander Ermochenko - 18de20
Soldados ucranianos disparam artilharia na linha de frente de Donetsk em 24 de abril de 2023.
Crédito: Muhammed Enes Yildirim/Agência Anadolu/Getty Images - 19de20
Ataque de mísseis russos atingem prédio residencial em Uman, na região central da Ucrânia
Crédito: Reuters - 20de20
Vista aérea da cidade ucraniana de Bakhmut capturada via drone
Crédito: 15/04/2023 Adam Tactic Group/Divulgação via REUTERS
Aquele foi o primeiro grande fórum multilateral com a presença de países do G7 a acabar sem críticas diretas aos russos, desde o início da guerra.
Na ocasião, o ocidente preferiu se aproximar da Índia, anfitriã do encontro, do que insistir no apoio irrestrito à Kiev –o que levou a inúmeras críticas de Zelensky.
Antes disso, um incidente menor já havia mostrado certa irritação do ocidente com a postura do presidente ucraniano.
O caso aconteceu em julho deste ano, quando o então ministro da Defesa do Reino Unido, Ben Wallace, reagiu aos insistentes pedidos de Kiev por mais armas dizendo que a OTAN “não era a Amazon”, numa referência aos serviços de delivery da empresa norte-americana.
“Eu disse isso aos ucranianos no ano passado, quando dirigi por 11 horas até Kiev e recebi uma lista” com pedidos de armas, disse ele.
A declaração foi colocada em panos quentes pelo governo britânico, mas aquele foi o primeiro sinal de que a paciência ocidental tinha limites –e estaria subordinada a resultados na linha de frente.
Sentindo a pressão, o presidente ucraniano apelou em seu discurso na ONU nesta semana por mais ajuda ainda –dizendo que o mundo tinha que se unir contra a Rússia.
Os dirigentes presentes, no entanto, preferiram dar mais destaque a outros problemas, como as mudanças climáticas.
Zelensky agora corre contra o tempo: está cada vez mais claro que o apoio ocidental depende de resultados mais concretos e rápidos no campo de batalha. Sob pena de mais países ocidentais adotarem a postura da Polônia.