Após ter sido epicentro da pandemia, NY começa a relaxar medidas de quarentena
Decreto de isolamento durou 78 dias, mais do que em todas as cidades dos Estados Unidos

Depois de 78 dias de quarentena para conter o novo coronavírus e um total de mortos só menor do que seis países, a cidade de Nova York começou a reabrir nesta segunda-feira (8).
Uma vez o epicentro da pandemia, a maior e mais populosa cidade dos EUA entrou na primeira fase de seu plano de reabertura, permitindo o retorno de trabalhadores não-essenciais da construção civil e manufatura, e o funcionamento do comércio em sistema de retirada.
“Esse é um momento triunfante para os nova-iorquinos que lutaram contra a doença”, disse o prefeito Bill de Blasio. “Minha mensagem é para que continuem”.
Cabeleireiros, escritórios e salões de bares e restaurantes continuam fechados até a próxima fase de reabertura. E shows da Broadway, museus e grandes aglomerações culturais continuam distantes.
No entanto, Nova York evoluiu desde março.
No estado, mais de 377 mil pessoas contraíram a Covid-19 e mais de 30 mil pessoas morreram em decorrência dela, as maiores cifras tanto na totalidade quanto per capita, de acordo com dados da universidade Johns Hopkins. Mais de 21 mil dessas mortes, ou cerca de dois terços, aconteceram na cidade de Nova York.
A quarentena de 78 dias foi a mais longa em todo o país e o relaxamento acontece semanas após outras partes do estado atingirem os critérios necessários para iniciar a flexibilização.
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Crises de saúde pública do novo coronavírus e de racismo

A reabertura vem após o coronavírus devastar a cidade — especialmente as comunidades negra e hispânica.
Na metrópole, o número de mortes entre negros e latinos pela Covid-19 foi o dobro do total entre brancos, de acordo com dados da cidade.
David Williams, professor de saúde pública e estudos afro-americanos em Harvard, disse que a Covid-19 é só a mais nova das doenças que impactaram desproporcionalmente as comunidades minoritárias.
“Não é um padrão novo”, disse. “O que a Covid-19 fez foi destacar um padrão que existe há muito tempo, e não fizemos tudo o que podíamos para mudá-lo”.
Especialistas em saúde demonstraram preocupação que os protestos contra o racismo que têm acontecido nos últimos dias levem a um novo aumento nos casos da doença.
“Enquanto todos estão preocupados com os riscos da Covid, o risco de ser negro neste país é quase maior, às vezes”, disse Abby Hussein, um pesquisador de doenças infecciosas da Universidade de Washington. “E a parte triste é que o grupo se manifestando pelos seus direitos é o mesmo que foi afetado desproporcionalmente pela doença”.
Mais de 500 mortes por dia no ápice
O governador Andrew Cuomo ordenou que trabalhadores não-essenciais ficassem em casa a em 22 de março, quando os casos de Covid-19 estavam crescendo num ritmo exponencial que sobrecarregou os hospitais. No entanto, as ações dele e do prefeito de Blasio foram tardias para conter um pico agudo de casos na cidade mais populosa do país.
O ápice significou pacientes tratados nos corredores, enfermeiros e médicos sem equipamentos de proteção pessoal, casas funerárias sem espaço e a criação de hospitais de campanha no Central Park, no centro de convenções Javits e à bordo de um navio hospitalar da Marinha americana.
Durante o começo de abril, mais de 500 pessoas morriam por conta do vírus diariamente na cidade. A quarentena e o fechamento maciço da vida pública trouxe o número para baixo, em lenta velocidade.
Desde então, as taxas de morte e hospitalização têm diminuído e o número de leitos e testes disponíveis são o suficiente para que a metrópole inicie a primeira fase do relaxamento.
No domingo, 72 pessoas foram internadas em hospitais em Nova York, 324 continuam em UTIs e os casos ativos correspondem à 4% da população da cidade, informou de Blasio.
Em todo o estado, 35 pessoas morreram de Covid-19 no sábado (6) e 45, no domingo, disse Cuomo. “Comparado aonde estávamos, esse é um grande suspiro de alívio”, disse.
Em celebração da tendência decrescente, monumentos foram iluminados em azul e dourado na noite de domingo. Projeções com os dizeres “Nova York é resistente” também aparecerão em todo o estado.
Com o retorno de funcionários aos escritórios de todo o estado, o governador também anunciou que vai assinar uma ordem executiva permitindo que os edifícios comerciais meçam a temperatura de quem entra nos locais.
“Vamos dar aos edifícios comerciais o direito de medir a temperatura de todos que entram. Não é só a sua saúde, mas a de todas que você poderia infectar”, disse Cuomo.
(Com informações de Eric Levenson, da CNN Internacional)